terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

CRÉÉÉÉÉÉÉUUUUU

As primeiras memórias de carnaval que me vêm, são de quando eu era criança, lá pelos sete, oito anos, sentado na varanda de uma casa de praia, todo lambuzado com uma fatia enorme de melancia, enquanto os adultos assistiam o compacto do desfile das escolas de samba do Rio. Naquela época, anos oitenta, todos sabiam de cor os sambas-enredo, que tocavam no rádio — e todos ouviam rádio naquela época, já que não existia a ‘portatibilidade’ de hoje.

Neste momento passa a Imperatriz Leopoldinense e eu nunca tinha escutado um verso sequer do seu samba. Podem dizer: “Ah, mas é fácil, é só baixar em mp3...” Sim, mas eu nunca fui fã de samba-enredo e nunca precisei ‘baixar’ nada pra conhecê-los. Simplesmente era orientado pela massificação que existia. Hoje, no entanto, não se pode ir à rua sem ouvir uma espécie de berro desesperado de um animal sendo abatido, gritando: “CREEEEEUUUUU!!!”. De forma agressiva, violenta e assustadora, uma espécie de Clóvis invisível, sem nenhuma beleza folclórica, nenhum encantamento mesmo.

Além de não conhecermos mais os sambas-enredo, por eles terem sido substituídos pelos “Créis” e pelos “Chicleteiros”, a chuva não deixa ninguém sossegado, e aí não tem mais melancia e nem varanda de casa de praia, mas sim a degradação ambiental, cultural, tudo! As plumas das fantasias murcham com a chuva, e tudo ganha um aspecto de tristeza.

O que resta nesta última semana de férias? A TV! É o jeito: ver as pessoas se divertindo pela TV. Nos camarotes VIP, nos carros alegóricos com suas fantasias caras, do lado oposto às arquibancadas repletas de apaixonados, cansados, bêbados e famintos, molhados de chuva, suor e cerveja. Eles lá, divididos em camarotes, setores, cordões e abadás, e nós aqui, com um copo de bebida, trazendo boas memórias de carnaval.

Um comentário:

Cleir do Valle disse...

Belo Blog, amigo! Texto emocionante e verdadeiro. Voltarei outras vezes...em muitos outros carnavais! Beijo.