quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Verão em São João da Barra

Parabéns ao setor responsável pela programação cultural do verão da Prefeitura de São João da Barra. Tem até Gilberto Gil!!! Gostaria de destacar os seguintes shows:

03/01/10 * DOMINGO
Atafona (Novo Balneário)
18h30 – MARIA RITA

10/01/10 * DOMINGO
Atafona (Novo Balneário)
18h30– NANDO REIS

17/01/10 * DOMINGO
Atafona (Novo Balneário)
18h30 – FREJAT

31/01/10 * DOMINGO
Atafona (Novo Balneário)
18h30 – RITA LEE

07/02/10 * DOMINGO
Atafona (Novo Balneário)
18h30 – GILBERTO GIL

Fonte: www.ururau.com.br

Ainda bem que não é para sempre

A decoração de natal em Campos - RJ este ano traduziu com perfeição a estética do atual governo municipal. Em algumas praças da cidade a decoração natalina mais parece uma ressaca de carnaval, como se fosse a quarta-feira de cinzas, quando vemos espalhados pela cidade restos de fantasias, alegorias e carros alegóricos despedaçados. É isso que parece.
A praça do Liceu, um dos cartões postais de Campos, uma espécie de câmara do tempo que nos remete à virada do séc XIX para o XX, em cujos bancos li Machado de Assis, foi restaurada, coincidentemente, no governo (estadual) Garotinho. Foi um grande trabalho de restauração artística, o que difere muito de uma reforma pura e simplesmente, resgatando todos os aspectos originais não só do prédio da residência do Barão da Lagoa Dourada como também da praça, onde até mesmo os postes tiveram partes raspadas a bisturi, camada por camada de tinta, buscando a cor original; os bancos foram reformados com base em fotografias antigas; até mesmo a restauração do paisagismo foi cogitada à época, mas acabou não sendo viável.
Após a restauração a praça tornou-se um dos locais mais bonitos da cidade, serviu de cenário para os shows do projeto Jardim in Concert. Por lá pude assistir a shows de Jorge Mautner, Francis Hime, Sivuca, Carlos Malta e Lenine, Leo Gandelman, Pedro Luís e a Parede, entre tantos outros grandes nomes da MPB.
Ou seja, o que antes era um espaço cultural interessante, que iniciou um processo de formação e um público apreciador de um tipo de música popular mais reflexiva e menos mercadológica, agora foi envelopado pela estética cafona deste governo, que promove em demasia shows religiosos na praça S. Salvador (quando o poder público municipal é laico), com o interesse em ser artificial e eleitoralmente popular, esquecendo-se que a diversidade também vota.
Somos vítimas de um pensamento único, anti-científico, anti-crítica, pseudo-religioso que se aproveita do aspecto apaixonado e irracional das religiões para a manutenção do poder.
Além de tudo, há um caráter notadamente personalista na decoração. É possível notar, nos cantos da praça, pacotes gigantes de presente com uma também gigante rosa vermelha por cima, como se fosse uma alegoria de carnaval, porém fazendo referência direta à prefeita. A praça é do povo, e não da prefeita.
Peço desculpas por não ter ilustrado esse texto com fotos, mas, pra falar a verdade, não quis me dar ao trabalho de fotografar algo tão feio.
Feliz natal a todos, e vamos ver no que dá 2010.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Jeff Beck, Performing This Week... At the Ronnie Scott's

Jeff Beck é um guitarrista britânico, nascido em 1944, assim como Jimmy Page, um ano após o nascimento de Roger Waters e um ano antes do fim da Segunda Guerra Mundial.

Esses meninos que vieram ao mundo em meio aos maiores bombardeios aéreos da história, os "war babies" compõem uma geração que, através da arte, sobretudo a música, exprimem toda a leitura de mundo de um país em reconstrução (sobretudo na obra de Roger Waters e o Pink Floyd, especialmente o disco/filme "The Wall").
The Yardbyrds foi um dos maiores representantes do blues na Inglaterra, nos anos 1960. Para você ter uma idéia, o guitarrista da banda era o Eric Clapton, o "deus da guitarra" que, ao sair, passou o cargo para o Jeff Beck, que por sua vez tocou ao lado do jovem Jimmy Page, mais tarde guitarrista e figuraça do Led Zeppelin, sempre associado ao ocultismo e a todos os mitos que envolvem os grandes guitarristas.
Entre o deus e o diabo, Jeff Beck se manteve como um grande guitarrista, fiel ao seu contexto e influenciando o universo da guitarra. O DVD Performing This Week... Live at Ronnie Scott's composto em sua maior parte por músicas instrumentais, apresenta um guitarrista extremamente técnico, que não usa palheta e domina a técnica da alavanca como eu nunca tinha visto antes. É notória a influência que este guitarrista exerceu, por exemplo, sobre um dos grandes nomes da guitarra, também na Grã Bretanha, o Mark Knopfler[1], do Dire Straits, não só nos dedilhados, mas também nos efeitos de volume muito utilizados pelos dois.
O show é maravilhoso pelo clima confortável e intimista. Na platéia é possível ver figuras como Robert Plant e Jimmy Page. No palco, a impressionante e jovem baixista Tal Wilkenfeld e o excelente baterista Jason Rebello, além das participações de Josh Stone e Eric Clapton.
Imperdível!

sábado, 5 de dezembro de 2009

ENEM: Primeiro dia de provas

Hoje foi o primeiro dia de provas do Exame Nacional do Ensino Médio, o ENEM, que este ano vai além de um instrumento de avaliação do Ministério da Educação, tornando-se a prova de ingresso em várias universidades federais no país, ou pelo menos parte da seleção de algumas delas.
Essa não é a única transformação no "novo ENEM", na verdade, ao substituir o vestibular em instituições importantes como a UFRJ, que adotará a prova como primeira fase, o ENEM traz à tona a discussão sobre Competências e Habilidades, conteúdos significativos, eixos temáticos, etc, que não é novidade pois está no ar desde a Lei de Diretrizes e Bases da Educação LDB 9394/96 e dos Parâmetros Curriculares Nacionais, os PCN, mas que se mantém adormecido desde a década de 1990.
O professor geralmente pensa que esses assuntos, que são centrais na sua prática profissional, são "coisa de pedagogo". Pensa também que o que determina os caminhos da educação básica é o vestibular. Pois bem, agora está aí o ENEM, abalando essas certezas. E agora?
O dia de hoje foi marcado por muita ansiedade para muitos envolvidos nesse processo, alunos e professores.
Trabalhei na aplicação da prova, só pra ser um dos primeiros a ter acesso a ela. Na minha sala, fiz questão de cortar com a tesoura o envelope que lacrava as provas e exibir para os alunos.
Fiquei olhando para aquelas carinhas e pensando em quanto tempo eles estavam esperando por essa prova, quanta confusão depois de tudo o que já foi dito e vem sendo discutido e trabalhado pelas escolas ao longo deste ano tão conturbado, marcado pela gripe suína que alterou todos os calendários, e pelo adiamento da prova por conta do vazamento.
Foi bom também ver ali misturados aos adolescentes, adultos, alguns já maduros, utilizando o ENEM como forma de obter a conclusão do Ensino Médio. E não foi apenas essa a diversidade, mas também de ver uma maioria de alunos da escola pública se dedicando à prova.
Muitos participantes, ao final, reclamaram do pouco tempo para fazer uma prova tão grande, que exigia não apenas o conhecimento do conteúdo, mas a capacidade de análise e interpretação dos candidatos.
Hoje foram realizadas as provas de Ciências da Natureza e Suas Tecnologias e Ciências Humanas e Suas Tecnologias. No tocante a esta última área, gostaria de ressaltar que a prova de geografia esteve bem elaborada, pelo que pude ver. Explorando bem a capacidade dos alunos em leitura de mapas, gráficos e tabelas. Nada mais daquela prova de geografia onde se tinha que decorar dados, até porque esses são efêmeros... o que o cidadão precisa saber fazer é lidar com os dados, que podem ser consultados a qualquer momento.
A prova de história também trouxe avanços. Numa mesma questão, baseada num determinado tema, as alternativas abordavam períodos históricos diferentes, exigindo do aluno a capacidade de transitar entre diferentes períodos, fazendo as devidas análises e comparações. Apesar disso, ainda trouxe resquícios do conteudismo.
A primeira prova do ENEM, a que vazou, foi muito criticada por ter sido muito "fácil". Esse teria sido o motivo para que algumas universidades desistissem de adotá-lo como instrumento único de seleção, e trouxe um certo descrédito por parte dos alunos. Comparando com a prova de hoje, acho que há uma grande diferença, inclusive na dificuldade, que vai além do óbvio, mas que atende a necessidade de avaliar se o ensino médio está ensinando, e principalmente, se está ensinando o que um cidadão precisa saber.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Às vésperas da enchente... Sofiatti falou, Sofiatti avisou.

São cada vez mais comuns as cheias dos rios que cortam a nossa região, alimentados pelas águas que rolam de São Paulo e Minas Gerais, quando chega o verão. No último ano a destruição atingiu a um número muito grande de moradores que passaram meses abrigados em escolas, que tiveram inclusive seu ano letivo iniciado tardiamente pois não foi possível que as famílas retornassem para suas casas, ou para o que sobrou delas.
Estamos acompanhando o transtorno que têm causado as obras de recapeamento asfáltico das ruas do centro da cidade de Campos-RJ, em pleno horário de pico, trazendo mais visibilidade para a ação da secretaria de obras. No entanto, não se vê nada parecido em relação aos preparativos para mais um período de enchentes.
Matéria do Jornal Folha da Manhã trouxe hoje o alerta feito pelo ambientalista Aristides Sofiatti, a respeito do despreparo da Defesa Civil para enfrentar o problema, e tamém a ausência de mobilização em torno desta questão que é tão grave para os meses que se aproximam.
Tomara que o alerta seja ouvido.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Desperdício

Hoje, como de costume, fui recarregar o cartucho de tinta da minha impressora, no Centro de Campos. A recarga, além de custar muito menos que um cartucho original, é uma opção mais inteligente do ponto de vista ambiental. No entanto, a cada vez que vou à lojinha com meu cartucho, eu levo de volta pra casa o cartucho cheio, protegido por uma pequena peça de acrílico, dentro de uma caixinha de papelão, juntamente com a página de testes de impressão do Windows.
Então, comentei com a moça da loja: "- É... Vou ver se guardo esta caixinha para a próxima vez, porque sempre que eu venho aqui eu levo uma caixinha nova pra casa". Ela respondeu: "- Não tem problema não." E eu ainda disse: "- Tem sim, é mais lixo." Nos despedimos com um sorriso e um desejo de bom final-de-semana, mas não sei se ela compreendeu exatamente o que quis dizer.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

E se você fosse rico?

Folheando uma revista publicada em Campos nos primeiros anos do século XX, chamada Campos Illustrada, deparei-me com a interessante enquete:

"Si eu fosse rico...
Quem ha que não queira ser rico, fabulosamente rico? Sabendo disso andámos ha dias a perguntar a algumas pessoas muito conhecidas em Campos - que fariam si fossem ricas?
Responderam-nos:
O poeta Manuel Mól - 'Si eu fosse rico daria um passeio de bonde'.
O sr. Pedro Fonseca - 'Si eu fosse rico mandaria construir por minha conta um prado duas vezes maior que o do Becco, para correrem cavallos tambem duas vezes maiores.'
O sr. Julio Nogueira - Si eu fosse rico faria... Muitas cousas.'
O sr. Freire Cabral - 'Si eu fosse rico - talvez me casasse.'
O sr. Alfredo Teixeira Pinto - 'Si eu fosse rico botaria tudo fóra.'
O sr. Leoncio Barreto - "Si eu fosse rico mandaria construir uma torre muito alta para subir nella e de lá de cima cuspir na humanidade."
O sr. Teixeira Duarte - 'Si eu fosse rico... até nem sei o que faria.'
O sr. Antonio Povoa - 'Si eu fosse rico... quem disse que eu continuaria como tabellião?'
O sr. Vicente Nogueira - 'Si eu fosse rico mandaria arrasar a cidade para plantar canna.'"

Essas eram as pessoas, muitas delas já ricas, que viviam em Campos no início do século passado. Antes do "politicamente correto" as pessoas eram mais sinceras, não? Vejam o sarcasmo de Manoel Moll, a desilusão de Leoncio Barreto, e o conservadorismo agrarista de Vicente Nogueira...

E hoje, a quem enviaríamos esta enquete?

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Mercearia Campista

Ia me esquecendo.
Gostei muito de ter visto na TV (Mult TV, canal 8 da ViaCabo, em Campos) o programa "Mercearia Campista", apresentado por Chico de Aguiar, Vítor Menezes, Ricardo André e Gustavo Oviedo.

Uma das propostas de tema para um próximo programa foi levantada por Gustavo Oviedo e por Chico. A questão do canal Campos-Macaé. Acho que será um tema interessante para o programa, quem sabe até recebendo convidados para o debate, exibindo também imagens históricas do canal e seu entorno, bem como fotografias atuais sobre como está o canal em Quissamã e Macaé.
Gostaria de ressaltar a relação de identidade que há entre uma cidade e seus cidadãos. Acho uma grande perda a destruição de qualquer elemento constituinte da memória de um lugar.
É claro que o canal é horrível. Aos olhos de um estrangeiro, que não necessariamente tenha esse laço afetivo entre cidadão-cidade, o canal Campos-Macaé não represente mesmo algo importante, não constitui uma grande obra arquitetônica. No entanto, não devemos ter esse olhar instantâneo, pautado sempre no belo pelo belo ou pela funcionalidade.
Acho realmente problemática a região do "Curral das Éguas". Talvez o seu maior problema não seja o canal em si, ou mesmo o mercado municipal, mas sim a apropriação do espaço. Aquela região toda já tem cultural e historicamente um determinado rótulo, a começar da rodoviária. Em todas as cidades os terminais rodoviários encravados no centro da cidade constituem áreas problemáticas. Cem metros adiante, margeando o canal, temos o mercado municipal. O problema não é o mercado, que aliás, encontra-se soterrado, de um lado por uma estrutura metálica horrenda, que foi funcional e eleitoralmente interessante no final da década de 1980, e de outro, pelo camelódromo.
O mercado municipal é lindo, as árvores ao fundo são lindas, o jardim de Allah, era lindo, e o canal também poderia ser, se não fosse aquela aglomeração toda.
Um bom exemplo a ser seguido é o do município de Quissamã, que valoriza a cultura, a história do município, e reforça os laços de identidade entre o cidadão e a cidade.
A preservação do patrimônio histórico de uma cidade insere o indivíduo como parte de sua história, e este sentimento de pertencimento reforça a cidadania. O reforço da cidadania, do amor pela cidade, consequentemente cria indivíduos mais críticos e conscientes da boa governança, defensores dos princípios democráticos, da participação ativa como cidadãos.
Este espírito está se perdendo, infelizmente, entre os campistas. Como disse o Chico de Aguiar no programa, referindo-se ao canal Campos-Macaé, "eu não estou mais disposto a perder mais nada não, Campos já perdeu muito". E é verdade. Muitos, até conscientes de tudo isso, acabam desanimando e se entregando, depois de tantas derrotas, e talvez seja essa a intenção daqueles que sucessivamente vêm (ah... não tem mais acento...) desgovernando a cidade.
No entanto, temos lá os senhores da Mercearia Campista, temos cá esta rede de blogs que, mesmo incomodando àqueles que estão a serviço do desgoverno, vem cumprindo um papel fundamental.
Vamos em frente.

Tarde quente no senado

Um circo dos horrores. Um patético e desnecessário circo dos horrores.
Me lembro do filme "O show de Truman", onde um rapaz, desde seu nascimento, fazia parte de uma grande farsa. Um programa de televisão que transmitia em rede nacional cada passo de sua vida, uma espécie de reality show porém sincero, onde o personagem principal não sabia que estava sendo filmado. Acho que deveria ser assim no Senado Federal.
A criação da TV Senado talvez tenha mudado o comportamento dos senadores e o próprio funcionamento da casa, pois os senadores, ao contrário de Truman, sabem que estão sendo filmados. Digo mais, talvez tenha mudado mesmo a natureza da milenar e mais importante instituição republicana.
Desde ontem, indignado por fazer parte deste circo, o Senador Eduardo Suplicy (PT-SP) esbrevejou contra a situação, interrompendo um discurso do senador Sarney que homenageava o centenário da morte de Euclides da Cunha. Em seu aparte o senador Suplicy exigiu de Sarney seu afastamento para os esclarecimentos definitivos a respeito das denúncias que pesam contra ele, e que constituem o centro da crise do Senado.



Hoje, 25/08, ainda mais inflamado, o senador Suplicy leva à tribuna um cartão vermelho, como os utilizados pela arbitragem do futebol, e diz estar dando um cartão vermelho a Sarney, exigindo sua renúncia à presidência.
A crise do senado agora chega ao PT. Na semana passada a senadora Marina Silva anunciou sua desfiliação ao partido. Em seguida foi anunciada a renúncia do senador Aluízio Mercadante à presidência da bancada petista no senado, que, depois de uma reunião com Lula decide manter-se na posição, porém insistindo no afastamento de Sarney e na apuração da crise. Esta semana se inicia com os ataques bastante indignados de Suplicy a toda esta situação.

De que maneira a imprensa vem cobrindo tudo isso? Ora, de maneira muito simples, colocando todos na vala comum da política (no mau sentido). "Político é tudo safado", "política é isso mesmo", "tudo acaba em pizza", "durante quanto tempo vamos aguentar?". Essas expressões corriqueiras que ouvimos nas ruas e que são reforçadas pela imprensa, conribuem para a desqualificação da política, dificultam a organização da sociedade de forma democrática. descrentes na política, os cidadãos (?) tendem a desvalorizar seu papel ativo na sociedade, tendem inclusive a não se importar se a existência do legislativo é algo necessário ou não para a democracia. Vou além: tendem a não se importar se democracia ou ditadura, tanto faz.

O governo Lula avançou em questões sociais e ganhou popularidade, e as forças de oposição , peo menos as "de direita" (perdoem-me aqui o anacronismo) avançam no sentido de combater tudo isso, quanto mais se aproximam as eleições de 2010.

A crise do senado, ou os fatos que a movem, talvez sejam menores do que o escândalo de Zé Dirceu, do "mensalão" (termo criado pela imprensa), os dólares na cueca... da crise do próprio Renan Calheiros. No entanto, ela se avoluma como uma onda gigantesca que vem de encontro à democracia. E o pior de tudo é que, não o governo mas Lula, prefere fritar o Partido dos Trabalhadores e colocar em risco a candidatura de Dilma Roussef para a presidência da república, ficando ao lado de Sarney, a despeito de figuras tão importantes e históricas do partido, como Suplicy e Mercadante.

E o pior é o que se desenha para 2010: se a estratégia desta oposição der certo, pior que a derrota do governo, pior que a derrota de Dilma, será a vitória do PSDB/DEM. Se o PT fosse derrotado pela oposição formada pelo PSOL com a candidatura de Heloísa Helena, ou pela candidatura que se apresenta (e já desperta o interesse dos guarda-chuvas como PMDB e PDT) de Marina Silva pelo PV, pelo menos o país continuaria avançando nas questões sociais e/ou ambientais, mas infelizmente, não será esse o caso.
Na minha interpretação, essas excelentes candidaturas dividirão a esquerda e facilitarão a vitória da iniciativa privada, do neoliberalismo decadente, do retorno das discussões sobre a ALCA, das privatizações, do entreguismo. Infelizmente.

Acho que algumas coisas não estão sendo bem explicadas pela imprensa. Quem votou em Sarney?
José Sarney (PMDB) foi eleito presidente do senado com 60,5% dos votos dos 81 senadores, como um candidato de oposição, contra a candidatura de Tião Viana (PT). O argumento era de que o PT já tinha o executivo, então era preciso que a oposição controlasse o legislativo. Essa foi a posição defendida pelo PSDB que compunha a chapa de Sarney com a candidatura do senador Marconni Perillo (PSDB-GO) a vice-presidência e do DEM, que apoiou abertamente a candidatura, como mostra a matéria publicada na "Tribuna do Maranhão": DEM formaliza apoio a Sarney e fortalece PMDB no Senado 30/01/2009,
Nesta matéria, o senador José Agripino Maia, do DEM, afirma: “Tião Viana é do PT, que já detém o Poder Executivo. Ter a presidência da República e o Congresso é demais”. “O senador Sarney é um homem de diálogo, não é petista, não tem alinhamento com o Executivo. O senador Tião é integrante do PT, que já detém o Executivo”.
No entanto agora todos se arvoram contrários à presidência que elegeram, arautos combatentes da corrupção no país, indivíduos honestos, verdadeiros salvadores da pátria, que não apresentam seu projeto de nação (?), que país será construído com sua vitória.
E mais: a renúncia de Sarney colocaria o Senado nas mãos do PSDB/DEM, pois assumiria o vice
Marconi Perillo.
Infelizmente esta questão não é esclarecida pela imprensa, não é dito nos telejornais. Ontem à noite, comentando o episódio ocorrido entre Suplicy e Sarney, o jornalista Boris Casoy disse que o senador Eduardo Suplicy gosta muito de aparecer. Hoje isso foi dido novamente no senado, durante um dos vários apartes à fala do senador petista no plenário, além dos embates com o senador Heráclito Fortes, que afirmou ter saído do seu gabinete para apartear Suplicy, quando a coisa esquentou mais uma vez.
Pois bem, o erro de Suplicy agora é "querer aparecer", "fingir ser oposição", quando no entanto continua sendo governo, embora discordando dos caminhos que este vem trilhando para o próximo ano. Isto faz parte do sistema democrático, não é erro. O erro de Suplicy para estes senadores, na verdade, foi ter se revoltado, se recusado a continuar participando deste circo dos horrores.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Eleições 2010

Acaba de ser lido pelo presidente em exercício do Senado, senador Mão Santa, comunicação enviada pelo gabinete da senadora e ex-ministra do meio-ambiente, Marina Silva, anunciando oficialmente sua desfiliação do Partido dos Trabalhadores, no dia de hoje.
A comunicação foi lida após várias menções de parlamentares ao nome da ex-ministra, ao atacarem seu sucessor no ministério, Carlos Minc.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Crise no Senado?

Não aguento mais a crise no Senado.
Não aguento mais a falta de discurso da oposição.
Temos uma oposição que tem uma longa história de situação, mas que apaga toda essa história em seus discursos. Parece que o Brasil nasceu no governo Lula.
Não sei se sou um defensor do governo Lula, também não sei se dá pra ser defensor de algum Justificargoverno, pois política não é religião nem torcida de futebol, mas sei que o governo Lula é a melhor coisa que poderíamos ter no momento, e que tem resultados importantes.
Não aguento mais ver o senador Artur Virgílio como porta-voz de toda a lisura e honestidade, quase um santo que a tudo e a todos desafia... não aguento mais ver o senador Mão Santa com sua retórica debochada, forçosamente devorando os "s" dos plurais, fazendo questão de enfatizar seu acento de coronel nordestino. Não aguento mais a fala do senador Heráclito Fortes, do Aleluia, do Papaléo, do Álvaro Lins...
Vamos denunciar a corrupção no governo Lula? Vamos. E depois? Quais são seus planos de nação? Qual é o projeto do PSDB/DEM? Qual é o seu candidato?
Derrubar o Sarney resolve o problema? Lembremos que o Sarney foi eleito por esta oposição, que não queria o senador Tião Viana na presidência para que o PT não controlasse o senado federal.
Criar uma crise no Senado, criar mais uma CPI, não "limpa" o legislativo. Ao contrário, joga na opinião pública, na cova rasa da imprensa, a imagem negativa do legislativo... confunde a população, reforça o discurso, sobretudo entre os jovens, de que "político é tudo igual, político é tudo safado." E o pior, abre espaço para a descrença nas instituições democráticas.
Esse discurso de incapacidade do legislativo foi o terreno fértil para o discurso antiliberal que estourou no início do século XX, que podemos ver no jurista alemão Carl Schmitt, que abriu as portas para a ascenção do nazismo. Este discurso ressurge hoje na Europa, quando assistimos a um retorno da direita, com direito a parlamentares neo-nazistas e tudo.
Porém, não é este o caso por aqui. No contexto atual, vemos a direita brasileira perdida em meio à crise do neoliberalismo, e com vergonha de revelar o seu autoritarismo, justamente no momento em que o país reconstrói a sua democracia após uma longa história de ditaduras.
Enquanto isso cresce a popularidade do presidente Lula, a ministra Dilma tem afinado seu discurso, com grande desenvoltura e seriedade, em defesa do papel do Estado em garantir o bem-estar social, como na entrevista de ontem concedida à jornalista Cristina Lemos, no Brasília ao Vivo, da Record News.
Se a oposição quer derrubar o governo Lula, é preciso ir além dos escândalos e construir um discurso.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Lembra-te

A prefeitura está fazendo alguma coisa, está caiando as muretas do Paraíba. Só reparei num detalhe estranho: na cabeceira do viaduto, onde há uma pixação de cunho religioso, a parede não foi pintada.
Lembra-te de que o Estado é laico e, por mais que seja uma inscrição religiosa, é uma pixação num espaço público...

Abandono

Para quê tem servido isso hoje?

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Prata da casa: Lançamento!!!

O professor Márcio Soares convida a todos para o lançamento de seu mais recente trabalho, publicado pela Apicuri, chamado "A Remissão do Cativeiro: A dádiva da alforria e o governo dos escravos nos Campos dos Goitacases".
O lançamento acontecerá no dia 25 de junho na Academia Campista de Letras.




O professor Márcio Soares, graduado em história pela Faculdade de Filosofia de Campos (1989), é professor adjunto da Universidade Federal do Tocantins, possui mestrado em História pela Universidade Federal Fluminense (1999) e doutorado em História pela Universidade Federal Fluminense (2006). Tem seus estudos voltados para o tema da escravidão africana, sobretudo em Campos dos Goytacazes.

domingo, 7 de junho de 2009

A Lira

O Urgente, um dos blogs mais importantes de Campos, tem levantado a discussão acerca do canal Campos-Macaé. Em outras ocasiões o blog tem revelado sua preocupação com a preservação do patrimônico cultural e histórico da cidade.
Tenho muito interesse pela história de Campos dos Goytacazes, sobretudo por seu apogeu, no final do Império e início da República. Destacava-se não só na província fluminense mas em todo o país, por sua produção açucareira e tradição comercial. A presença da livraria* mais antiga do país e de um dos jornais** (a classificação exata é controversa) mais antigos em circulação, e a incursão pelos seus arquivos, despertam grande fascínio, ao imaginar aqueles homens de terno e chapéu, exibindo seus fartos bigodes e barbas bem cuidados, bem como suas bengalas... mulheres exuberantes em seus imensos vestidos, frequentando as sessões do teatro Trianon ou do São Salvador... as apresentações das diversas bandas musicais... imaginem, a primeira cidade a ter luz elétrica nesta parte do continente! Deve ter havido interessante vida noturna!!! Bondes elétricos cortando as hoje tão conhecidas ruas de seu centro e adjacências...
Circulam por aí punhados de fotografias deste passado glorioso, que chegam a me causar estranhamento, por não acreditar que de fato se trata da mesma cidade. Fico imaginando a qualidade dos homens públicos daquele período (obviamente sem a ingenuidade cega de acreditar que eram homens generosos preocupados com o bem-estar social), a noção de que se tratava de uma grande cidade, ao ponto de pleitearem a sede administrativa do governo fluminense, em momentos históricos distintos.

Observando as fotografias deste passado, dei pra tentar refazê-las, do mesmo ângulo. Sábado e domingo pela manhã são ótimas oportunidades de passear pela cidade e tentar absorver as súplicas de socorro deste passado que grita aos ouvidos mais sensíveis: "Não me esqueça!"
Minha maior tristeza é ver o prédio da Lira de Apolo em ruínas. Não dá pra escondê-lo ali, aberto à principal praça da cidade. No seu interior é possível ver renitente um quadro de giz com a agenda dos ensaios da histórica banda musical. Não há mais prédio, mas há banda. O que leva esses homens a manter esta tradição? Eu que sou músico sei a resposta: mais que tradição, o prazer de tocar.
Posto aqui uma foto atual, mostrando "a sobra [deste] futuro" sobre a "sombra do passado", desta grande cidade.

*Ao Livro Verde

** O Monitor Campista

















Um detalhe que só reparei agora: na primeira foto, a mais antiga, aparece um mastro de madeira exposto na sacada central do prédio. Este mastro, ou um toco podre que restou dele, ainda está lá, e pode ser visto na segunda foto.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Ausência

Estou distante... sem passar por aqui. Estive ocupado trabalhando em um projeto de mestrado, e mais ocupado ainda me recuperando dos golpes que sofri da banca. Desde então não tive tempo de pensar direito em desistir de tudo, em enfrentar tudo, de entender que tudo não passou de um ritual de iniciação e vaidade, e ainda não sei se quero seguir fazendo parte de tudo isso. Mas sigo em frente.
O trabalho que nos consome a cada dia... cada vez mais horas divididas entre o trabalho e o sono. A felicidade de céus azuis e águas cristalinas, novos ares e pessoas, fica cada vez mais distante de nós. O prazer mais imediato é o mais banal: a vontade de almoçar em casa, de brincar com os animais de estimação, cuidar das plantas, dormir em nossa confortável cama... coisas banais mas que adquirem um significado tão importante nestes tempos de aflição.
De qualquer forma, vou ver se consigo passar mais vezes por aqui. Amanhã e depois serão dias de internato na correção de provas... assim que me livrar de tudo isso volto a este blog (se é que ainda há leitores). Boa noite e bom final de semana a todos.

sábado, 11 de abril de 2009

"Então erguemos muros que nos dão a garantia de que morreremos cheios de uma vida tão vazia"

O cigarro que fumo está custando R$ 4,50. O imposto sobre o cigarro foi aumentado para baratear a construção civil, setor que mais cresce e emprega no Brasil. Eu só não sei como os pedreiros vão fazer pra fumar seu tradicional cigarrinho depois do igualmente tradicional cafezinho durante o intenso trabalho (a gente vai fumando que também sem um cigarro, ninguém segura esse rojão).

O governo, o cinema, as artes em geral, a civilização ocidental capitalista e liberal inteira glamourizou o cigarro: foi um símbolo de status, de desprendimento, de rebeldia, um produto bem rentável. Investiu-se em marcas, modelos e propagandas diversas. Viciou-se o mundo inteiro.

Vivemos um mundo que busca a perfeição. Buscam-se leis perfeitas, uma segurança perfeita contra a violência, uma saúde perfeita, a juventude eterna, a vida eterna! As crianças não podem ser contrariadas - já não se diz não para educar – a classificação etária está no cinema, na TV, nos restaurantes, nos brinquedos; a alimentação é light, diet, zero...

Toda essa onda de varrer a sujeira pra baixo do tapete produz uma vida muito vazia, muito chata. Já não há mais ideologia, os princípios liberais, disfarçados de democracia a tudo venceram, mas produziram e produzem cada vez mais a artificialidade, ou a virtualidade. Não há mais limites entre o fantástico e o real, pois o real não existe mais. No entanto, as crianças de hoje parecem ser muito mais violentas que antes. Quando brincávamos com armas de brinquedo, no ambiente real dos quintais de nossas casas, na brincadeira de “polícia e ladrão”, sabíamos que não iríamos ferir nosso colega; não havia sangue, e sim o espaço para ele reclamar que não valeu, que ele conseguiu desviar a tempo. No videogame existem armas poderosíssimas, crimes, tortura, e sangue, muito sangue; ali a criança não está vendo seu colega, não está vendo ninguém, está trancada, na solidão de seu quarto, na carência afetiva provocada pela falta dos pais que estão sempre trabalhando em níveis máximos de exploração da mais-valia; ali a criança perde a noção do real.

No entanto, proibiram a arma de brinquedo, assim como estão querendo proibir o cigarro, e pelo mesmo princípio: a obsolescência. Assim como a arma de brinquedo, o cigarro se tornou ultrapassado, economicamente não é mais interessante. Vender Gatorade é mais barato e rende muito mais. Da mesma maneira que o videogame substituiu a arcaica arminha de brinquedo, o revolvinho de espoleta do Magnum, ele, que vicia tanto quanto o cigarro, um dia também será combatido sub o pretexto de trazer transtornos para os jovens.

É muita hipocrisia. Digam logo: queremos proibir o cigarro porque ele não é mais tão lucrativo, ou, ele é lucrativo, mas os prejuízos que ele traz para a economia são enormes, e o governo não quer mais gastar com saúde, aliás, segundo os preceitos neoliberais, não deve mais gastar com saúde. Nem saúde nem educação, isso agora é responsabilidade da iniciativa privada. Deixa os ricos fumarem, porque esses podem pagar os planos de saúde, e por isso o cigarro tem que subir bastante de preço, inclusive para manter seu poder de distinção.

Ontem passava na TV o filme “O advogado do Diabo”, e durante a cena final o diabo, interpretado por Al Pacino falava sobre Deus, e sobre a liberdade do livre-arbítrio, do quanto isso é perverso: “olhe, mas não toque; toque mas não prove”, deixando sobre o indivíduo a responsabilidade sobre seus erros.

É igual ao crédito bancário: O Itaú aumenta a cada dia o cheque especial de seus clientes, como se fosse uma liberação de crédito, mas na verdade é, nas palavras de um amigo, “uma agiotagem oficial”, pois os juros são criminosos. Depois, eles enviam cinicamente uma cartilha falando sobre o uso consciente das linhas de crédito. Complicado, não?

Pois bem, esse é um dos princípios do liberalismo: você é livre para consumir, mas o lixo é um dos grandes problemas ambientais, que vai acabar com a humanidade; você foi livre, durante mais de um século, para se viciar, mas agora tem que se comportar como criminoso para fumar seu cigarro.

Esquecem-se que a fome ainda mata bastante no mundo, que a violência exacerbada é sim, uma questão de desigualdade e de ausência do Estado.

Eu me pergunto, neste sábado de aleluia: Não seria também crime malhar o Judas?

sábado, 21 de março de 2009

Mais tradições

Campos é uma cidade de tradições e contradições. Tradições louváveis e tradições do mais puro conservadorismo.
Uma das tradições louváveis é aquela ligada a literatura: temos, ainda em atividade, a mais antiga livraria do país e o terceiro jornal mais aintigo ainda em circulação no Brasil. O Monitor Campista é, sem dúvida, um dos maiores patrimônios culturais de Campos, ou talvez de toda a terra fluminense. É fonte fundamental de pesquisas na área das ciências humanas, para aqueles que pretendem uma análise atenta do cenário político do Norte Fluminense durante o Império, a passagem para o regime republicano e os tensos anos de 1920 até às vésperas do movimento de 1930.
Tradicionalmente esse jornal publicou o Diário Oficial do município, o que não necessariamente afetou sua qualidade jornalística, ao contrário de outros diários mais recentes que se comportam como panfletos partidários (não exatamente partidários, porque a política por aqui é a mais personalista possível e a ideologia partidária passa ao largo) pessimamente redigidos e editados.
No passado vários intelectuais enriqueceram as colunas deste jornal: jornalistas, juristas e políticos de outra estirpe intelectual. Da mesma forma que abriga hoje em seu staff os melhores jornalistas da cidade.
Porém outra tradição não tão louvável é o fenômeno do radialismo político na cidade, sobretudo a partir dos anos 1970/80. As rádios AM produziram, à partir deste período, ícones personalistas, verdadeiros ícones carismáticos que se apoderam da palavra e a usam em tom de verdade absoluta, de forma enfática e agressiva.
Essa palavra, de alcance bem maior que a mídia impressa, atingiu em cheio sobretudo as camadas mais populares, que constituíram a base de uma espécie de "neopopulismo" que se instalou em nossa cidade há vinte anos, e veio assumindo novas formas, novas "ideologias", acumulando cada vez mais capital (político e econômico), e alçando vôos cada vez mais audaciosos. Hoje, além do rádio (cada vez mais forte), dominam também a mídia impressa, e os veículos que mais circulam, apresentam traços gritantes de comprometimento político até a alma com tais grupos.
Eis então que o atual governo municipal decide retirar do velho Monitor o D.O., tentando de alguma forma sufocar o jornal, o que acho difícil. Será que o D.O. iria parar em outro diário mais conveniente aos seus interesses? Não sabemos. Mas é notório que a administração municipal que aí está conhece muito bem a força dos meios de comunicação, e os usam como ninguém.
De qualquer forma, acredito que a qualidade e a importância histórica deste jornal que, como já disse, é nosso maior patrimônio, garantirão a sua permanência como o veículo sério que sempre foi.
Vida longa aou Monitor Campista!

sexta-feira, 20 de março de 2009

Tradição

Por volta das 13h de hoje, liceístas organizavam manifestação em frente a escola (exatamente onde se encontra a pequena carroagem na foto ao lado, do séc. XIX). Motivo? O uniforme. Nos anos 90 houve algo parecido. O governo do Estado decidiu padronizar os uniformes da rede estadual, independente das escolas. A uniformização do uniforme, por mais redundante que pareça, de certa forma contribuiu para a perda da identidade de algumas escolas, e para a rotulação do aluno, que deixava de ser desta ou daquela escola, e passaria a ser identificado como aluno da rede pública de ensino.
Na época os estudantes do Liceu tinham acabado de alcançar uma conquista: o uniforme branco com calça jeans para o 3º. ano do Ensino Médio, que tinha um quê de hierárquico, tudo bem, mas também o significado do fechamento de um ciclo, um sabor de despedida, e um estímulo para os demais, que permaneceram com seus cinzas tradicionais que, independente de serem bonitos ou não, eram defendidos com orgulho por seus alunos, pois afirmava a identidade da escola centenária.
Nos anos 90 nós vencemos, mantivemos o nosso uniforme, assim como o IEPAM e o Nilo Peçanha, muito por conta da articulação de seus grêmios estudantis.

Hoje, mais uma vez a questão retorna. Um novo uniforme foi imposto à toda a rede, e mais uma vez os estudantes protestaram. Estenderam os uniformes no chão, em frente à escola, e gritavam: "Liceu é tradição, não é humilhação". Eu passava pela frente da escola e inevitavelmente, como liceísta, me misturei aos estudantes. Muito válida a sua manifestação, sua luta pela manutenção da identidade.
Porém, esse discurso da tradição contra a humilhação me soou um tanto perigosa: qual o significado desta tradição? Se for a idéia de identidade, tudo bem; mas se for a manutenção de um caráter elitista de segregação, onde o Liceu não pode se comparar às outras escolas da rede, acho complicado.
Espero que a luta se estenda para as outras escolas, e que seja possível acabar com a uniformização do uniforme. Que este seja um símbolo de distinção e identidade para todas as escolas, e não um rótulo para a rede pública de ensino.

domingo, 15 de março de 2009

habitus academicus - utilíssimo!!!

Temos vários cursos de ciências humanas em Campos (UFF, UENF, CEFET, FAFIC...), alguns com décadas de existência e outros novíssimos como os que acabam de chegar pela UFF, em seu projeto de expansão. No momento, muitos estão produzindo pesquisas que não chegam ao conhecimento do público. O objetivo do Prof. Dr. Eugênio Soares (UFF) no blog habitus academicus é justamente reunir informações sobre esta produção acadêmica na área de Ciências Humanas em nossa região. Vale a pena conferir.

Presidente da ANPOCS na UENF

Na próxima quarta-feira, 18 de março, a Dra. Maria Alice Rezende de Carvalho, atual presidente da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS), estará no Centro de Convenções da UENF, às 9h, proferindo a aula inaugural de 2009 do Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política e da graduação em Ciências Sociais da UENF. O tema será: "Os 20 Anos da Constituição Brasileira".
Uma ótima oportunidade para todos aqueles que se interessam pelas discussões acerca do pensamento social brasileiro.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Cumprindo o desafio

Recebi da Ana Paula um desafio, que ela, por sua vez, recebeu de um amigo. É mais ou menos assim:


No livro que tenho mesmo à mão (A Organização Nacional), Alberto Torres, na página 116, 5ª linha, a frase completa: "Demos terra a todos os homens válidos; instrução primária, a todos o que podem ver e ouvir; instrução secundária e superior, a todos os que são capazes, não a dando a nenhum que não o seja; educação social e profissional, também a todos; e não temamos o futuro. O brasil é um país destinado a ser o esboço da humanidade futura".
Frase oportuna e adequada, considerando-se ter sido escrita na década de 1910, a partir de um ponto de vista bastante conservador, mas que não deve ser de todo mal. Tivéssemos cumprido parte disso, teríamos de fato cumprido esse destino... Ou pelo menos mais próximos de cumprí-lo.

Desculpem não estar lendo nada mais belo e literário... são os ossos do ofício.

E o desafio segue para:

Jules Rimet

Rodrigo Manhães

Professora Hilda Helena

Gustavo Soffiati

Aucilene Freitas


Façam o mesmo! Peguem o livro que estiverem lendo, abram-no numa página qualquer e transcrevam o que estiver na quinta linha!!!

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Penha (Sobre Meninos e Lobos)

O bairro da minha infância não existe mais. Quando passo por lá me sinto um estranho no ninho. Não conheço mais as pessoas. Os velhos já se foram, muitas migrações ocorreram, o processo de ocupações desordenadas, loteamentos chamados “nova” isso ou “nova" aquilo, sem saneamento... os “casarões” daqueles mais abastados de minha infância (o dono da farmácia, o dono da mercearia...) agora estão tomados por limo e mofo, ocupados por estranhos.

As crianças do bairro da minha infância não brincam mais nas ruas. Não há mais aquele terreno baldio que, por um mutirão, foi transformado num campinho, onde memoráveis peladas ocorriam todas as tardes depois da escola. Muitos não frequentavam a escola, mas ali no campinho, todos se misturavam, sem problemas (o filho do dono da farmácia, do dono da mercearia, eu, e muitas outras crianças cujos pais não se sabia muito bem o que faziam, e certamente não eram donos de nada. Mas eram todos crianças, isso era o que importava). Hoje as crianças de lá são tristes e muitas. Tantas crianças que acabam parecendo todas iguais. São os filhos das crianças do bairro da minha infância. Não sei se têm carinho dos pais, se aprendem a não jogar lixo no chão, a respeitar os mais velhos, a serem honestos, justos, não sei se tomaram todas as vacinas, se pegaram caxumba ou sarampo, não têm mais campinho, não brincam de pique-bandeira, esconde-esconde, se catam os besouros debaixo dos postes, nem sei se brincam. Na verdade as vejo como mini-adultos abandonados, sem um mundo só seu, mas sim uma simplificação do mundo dos adultos. Não tem mais música infantil, programa infantil (de parque, de praça, de TV)... não têm armas de brinquedo, não vêem filmes de terror, não podem fazer nada (E são muito mais violentos que eu). Não podem ouvir um "não". Assim como as armas, não têm mais telefone de brinquedo, mas sim um celular de última geração, que toca música (num alto-falante de péssima qualidade, por sinal), tira foto (com uma péssima definição), é vara de pescar, canivete suíço, bote salva-vidas, e ainda por cima serve pra falar com alguém, mas no caso das crianças, não serve: geralmente é de cartão e não tem crédito ou mesmo não têm ninguém pra falar.

Depois, essas crianças do bairro da minha infância tornam-se jovens. Os jovens de lá me entristecem muito. Lá tem um lugar onde eu sempre ia quando estava triste ou alegre, quando estava sozinho. Passava horas, observando tudo ao redor, em paz. Hoje, só sinto tristeza. Tristeza e medo. Soube que o tráfico de drogas destruiu a vida da maioria das crianças do bairro da minha infância. Tinha um menino que morava em frente a minha casa, chamado Juninho. Juninho sabia fazer pipas (naquele tempo, não tinha essa história de comprar pipa pronta. O legal era confeccionar a sua própria.) e as pipas dele eram bem ágeis, pequeninas, boas para as acrobacias no ar. Ele fazia pipas pra mim e passávamos algumas horas no fim do dia, depois da minha escola (ele não estudava), soltando pipa. Era divertido. Depois, com o passar dos anos, na adolescência, Juninho foi trabalhar com o pai como ajudante de pedreiro; depois o pai largou a família; depois não vi mais Juninho. Tinha outro menino, “Fofão”, que tinha um irmãozinho franzino, um bebezinho que brincava com a gente na rua. Éramos meninos de 12, 13 anos, e o irmãozinho do Fofão devia ter uns 3, e de chupeta e fralda na mão, acompanhava a gente nas brincadeiras. Há muito tempo não vejo o “Fofão”, muito menos seu irmãozinho.

Hoje, visito o bairro da minha infância raramente, um domingo ou outro, pra almoçar com minha mãe. No último domingo ela ria das rugas em meu rosto, meus pés-de-galinha, e perguntou a minha mulher se eu não tenho usado creme anti-rugas. Eu tenho 30 anos, quase 31. Quando eu nasci, minha mãe tinha 43. Pra ela isso era um escândalo em 1978, afinal de contas, ela tinha uma filha que estava pra se casar e outra com 12 anos de idade. Como podia? A filha noiva, de casamento marcado, e ela, uma senhora de 43 anos (naquela época, à partir dos 40 você já era considerado velho), grávida! Ela conta que olhava pra mim quando criança e se perguntava se viveria pra me ver na escola. Ainda nos emocionamos com isso, sobretudo agora na minha luta de pós-graduação. E ela rindo das minhas rugas, dos pés-de-galinha daquele menino que ela temia abandonar cedo.

Eu fui à escola, mas os meninos do bairro da minha infância não. Alguns (poucos, talvez 3 contando comigo) conseguiram seguir nos estudos, cursar o ensino superior; alguns conseguiram se tornar policiais militares e hoje têm a difícil tarefa de perseguir seus colegas de infância, que jogavam pelada naquele campinho em belas tardes. Outro dia, o Ricardo*, que é PM, me contou que quem comanda o tráfico por lá é o irmão do “Fofão”. Lembram dele? O menininho franzino de 3 anos de idade, com chupeta e fralda? Pois é, hoje é conhecido como “Pão” e dizem que é um ótimo atirador. O Juninho, que fazia pipas pra mim, quase foi morto a facão dia desses. Motivo? Vingança, por estar envolvido na morte do principal traficante da área, disputando boca de fumo.

Soube disso tudo hoje, em minha casa, pelos pedreiros que reformam meu banheiro. Pedreiros que eram meninos do bairro da minha infância.


* Nome fictício

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Baile do Obama

Agora, 1h40min no Brasil, está ocorrendo um dos 10 bailes em comemoração a posse do 44º presidente estadunidense. Trata-se do baile da juventude, transmitido com exclusividade no Brasil pela MTV. O evento contou com show de vários artistas do mainstream norteamericano, como Rihanna, etc. Após rápido discurso, que identificou a juventude dos EUA como principal agente da mudança encarnada nele próprio, que inspirou gerações passadas a votarem em sua candidatura, o presidente dançou re rostinho colado com a primeira-dama, com direito a chavecos no pé do ouvido e beijinhos singelos, dançando na maior ginga dos negros americanos, dois jovens sorridentes. Obama ressaltou, acidentalmente parafraseando a oração de São Francisco de Assis, que onde imaginam guerra, é possível haver paz; onde imaginam a fome, há a possibilidade de crescimento. O presidente ressaltou mais uma vez, como fez em seu discurso de posse, a necessidade de solucionar o sério problema do sistema público de saúde norte-americano.
Tudo bem, tudo bem... eles são americanos, não dá pra esperar muito mais que isso. O Obama disse que é possível vencer os inimigos sem truculência, mas que a usará se for necessário. O tema deste baile, por exemplo, é o voluntariado, que atualmente é o máximo que os estadunidenses podem vislumbrar em relação a construção de um mundo mais justo. Fazer o quê?

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Obama já é presidente

Acaba de prestar juramento o 44º presidente dos EUA, Barack Obama. Neste momento, pronuncia seu discurso de posse, citando momentos importantes da história dos EUA. Reconheceu a crise, ressaltou pontos fortes da campanha e prometeu cumpri-los. Falou sobre a mudança na imagem do multilateralismo norteamericano.
Dirigiu-se aos países pobres, comprometendo-se a apoiar, e criticou a postura dos países desenvolvidos de utilizar os recursos naturais como se os pertencessem, assinalando que estamos em outros tempos.