Mais um disco, só que esse nem chega a sê-lo. Não tem suporte tátil. O “disco” é um site, com projeto gráfico, letras, release, ficha técnica e as mp3 para baixar. Maravilhoso!
Desde a turbulenta saída do guitarrista Augusto Licks em 1993, e do baterista e fundador da banda Carlos Maltz em 1996 que os Engenheiros do Hawaii se tornaram uma banda de um homem só, com pelo menos umas cinco formações diferentes tendo sempre Humberto Gessinger à frente. Afastados da mídia (mas nunca abandonados pelos fãs), retornaram às rádios e TVs com o Acústico MTV (2004), realizando a mais longa turnê da carreira (cerca de 3 anos), que foi se alterando a cada show e provocando mais um registro ao vivo, desta vez sem o selo da MTV, o disco/DVD “Novos Horizontes”.
Em julho de 2008, o próprio Humberto anunciava no site da banda que os Engenheiros do Hawaii sairiam da estrada por um tempo. Mais uma briga interna? Talvez, mas o lado positivo foi o encontro com o guitarrista da banda gaúcha Cidadão Quem, o Duca Leindecker, que acabou proporcionando o projeto “Pouca Vogal”.
Em 1992 Gessinger dizia que ser gaúcho era isso: “muita consoante e pouca vogal”. A solidão dos pampas, o jeito introspectivo de ser brasileiro, sem swing, sem vogal, mas sim o som fechado das consoantes, presentes nos sobrenomes dos imigrantes.
Pra nossa surpresa, depois de tantos anos é retomado exatamente esse aspecto dos gaúchos. Parece que foi preciso estar fora dos Engenheiros do Hawaii pra voltar a ser os Engenheiros do Hawaii. Citações de auto referência, como essa de dizer nas músicas o que havia sido dito numa entrevista de tanto tempo atrás, podem ser encontradas na faixa que dá nome ao disco. “Pouca Vogal” é uma canção que necessita de um glossário portoalegrense para entendermos o que significa, por exemplo, a expressão “tudo allesblau” [“tudo azul”, que deve ser: all = tudo (inglês); és = é (espanhol); blau = azul (alemão)], fruto da convergência das correntes migratórias que o sul recebeu ao longo da história, e a própria proximidade com a América Espanhola. Lembra a regravação de “Herdeiro da Pampa Pobre”, do Gaúcho da Fronteira, presente num disco dos tempos áureos, o “Várias Variáveis”, que trazia a faixa “Piano Bar”, citada justamente em “Pouca Vogal”, em seu refrão: “No táxi que me trouxe até aqui / cantavam dois irmãos / tchau astral estranho deu pra ti / vou pegar o avião”. Vão aí uma referência a dupla Clayton e Cledir e ao período em que o Gessinger viveu no Rio de Janeiro, no auge de sua banda.
Além desta faixa, existem também “Pra quem gosta de nós”, repleta de gauchismo (e muito gauche), “O vôo do besouro”, “depois da curva”, entre outras.
Outro fato interessante, que também remonta os primórdios dos Engenheiros é a engenhosidade na execução das músicas. Nos tempos de trio era preciso muita habilidade para preencher as músicas, como tocar teclados com os pés, disparar samplers, etc. No Pouca Vogal, Humberto Gessinger ressuscita o seu midi pedalboard, além de alternar entre violões (nylon, aço 6 e 12), viola caipira, baixo e teclados, enquanto o Leindecker ataca de guitarras bem sensíveis e precisas, violões e percussão, além de mandar muito bem no Pro Tools, mixando o disco.
O resto é com vocês. Ouçam e comentem. Eu estou muito feliz por sentir novamente um pouco do que sentia na minha adolescência.
Em julho de 2008, o próprio Humberto anunciava no site da banda que os Engenheiros do Hawaii sairiam da estrada por um tempo. Mais uma briga interna? Talvez, mas o lado positivo foi o encontro com o guitarrista da banda gaúcha Cidadão Quem, o Duca Leindecker, que acabou proporcionando o projeto “Pouca Vogal”.
Em 1992 Gessinger dizia que ser gaúcho era isso: “muita consoante e pouca vogal”. A solidão dos pampas, o jeito introspectivo de ser brasileiro, sem swing, sem vogal, mas sim o som fechado das consoantes, presentes nos sobrenomes dos imigrantes.
Pra nossa surpresa, depois de tantos anos é retomado exatamente esse aspecto dos gaúchos. Parece que foi preciso estar fora dos Engenheiros do Hawaii pra voltar a ser os Engenheiros do Hawaii. Citações de auto referência, como essa de dizer nas músicas o que havia sido dito numa entrevista de tanto tempo atrás, podem ser encontradas na faixa que dá nome ao disco. “Pouca Vogal” é uma canção que necessita de um glossário portoalegrense para entendermos o que significa, por exemplo, a expressão “tudo allesblau” [“tudo azul”, que deve ser: all = tudo (inglês); és = é (espanhol); blau = azul (alemão)], fruto da convergência das correntes migratórias que o sul recebeu ao longo da história, e a própria proximidade com a América Espanhola. Lembra a regravação de “Herdeiro da Pampa Pobre”, do Gaúcho da Fronteira, presente num disco dos tempos áureos, o “Várias Variáveis”, que trazia a faixa “Piano Bar”, citada justamente em “Pouca Vogal”, em seu refrão: “No táxi que me trouxe até aqui / cantavam dois irmãos / tchau astral estranho deu pra ti / vou pegar o avião”. Vão aí uma referência a dupla Clayton e Cledir e ao período em que o Gessinger viveu no Rio de Janeiro, no auge de sua banda.
Além desta faixa, existem também “Pra quem gosta de nós”, repleta de gauchismo (e muito gauche), “O vôo do besouro”, “depois da curva”, entre outras.
Outro fato interessante, que também remonta os primórdios dos Engenheiros é a engenhosidade na execução das músicas. Nos tempos de trio era preciso muita habilidade para preencher as músicas, como tocar teclados com os pés, disparar samplers, etc. No Pouca Vogal, Humberto Gessinger ressuscita o seu midi pedalboard, além de alternar entre violões (nylon, aço 6 e 12), viola caipira, baixo e teclados, enquanto o Leindecker ataca de guitarras bem sensíveis e precisas, violões e percussão, além de mandar muito bem no Pro Tools, mixando o disco.
O resto é com vocês. Ouçam e comentem. Eu estou muito feliz por sentir novamente um pouco do que sentia na minha adolescência.
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