Tenho muito interesse pela história de Campos dos Goytacazes, sobretudo por seu apogeu, no final do Império e início da República. Destacava-se não só na província fluminense mas em todo o país, por sua produção açucareira e tradição comercial. A presença da livraria* mais antiga do país e de um dos jornais** (a classificação exata é controversa) mais antigos em circulação, e a incursão pelos seus arquivos, despertam grande fascínio, ao imaginar aqueles homens de terno e chapéu, exibindo seus fartos bigodes e barbas bem cuidados, bem como suas bengalas... mulheres exuberantes em seus imensos vestidos, frequentando as sessões do teatro Trianon ou do São Salvador... as apresentações das diversas bandas musicais... imaginem, a primeira cidade a ter luz elétrica nesta parte do continente! Deve ter havido interessante vida noturna!!! Bondes elétricos cortando as hoje tão conhecidas ruas de seu centro e adjacências...
Circulam por aí punhados de fotografias deste passado glorioso, que chegam a me causar estranhamento, por não acreditar que de fato se trata da mesma cidade. Fico imaginando a qualidade dos homens públicos daquele período (obviamente sem a ingenuidade cega de acreditar que eram homens generosos preocupados com o bem-estar social), a noção de que se tratava de uma grande cidade, ao ponto de pleitearem a sede administrativa do governo fluminense, em momentos históricos distintos.
Observando as fotografias deste passado, dei pra tentar refazê-las, do mesmo ângulo. Sábado e domingo pela manhã são ótimas oportunidades de passear pela cidade e tentar absorver as súplicas de socorro deste passado que grita aos ouvidos mais sensíveis: "Não me esqueça!"
Minha maior tristeza é ver o prédio da Lira de Apolo em ruínas. Não dá pra escondê-lo ali, aberto à principal praça da cidade. No seu interior é possível ver renitente um quadro de giz com a agenda dos ensaios da histórica banda musical. Não há mais prédio, mas há banda. O que leva esses homens a manter esta tradição? Eu que sou músico sei a resposta: mais que tradição, o prazer de tocar.
Posto aqui uma foto atual, mostrando "a sobra [deste] futuro" sobre a "sombra do passado", desta grande cidade.
*Ao Livro Verde
** O Monitor Campista
Um detalhe que só reparei agora: na primeira foto, a mais antiga, aparece um mastro de madeira exposto na sacada central do prédio. Este mastro, ou um toco podre que restou dele, ainda está lá, e pode ser visto na segunda foto.
3 comentários:
Restauração: o que fazer com a "Central Fotos" e com a "Rainha do Pão quente"?
Espetacular seu trabalho espontâneo e gratuito pela cidade.
Estarei acompanhando e gostaria que visitasse nosso blog: blogovagalume.blogspot.com
Muito bom,Rodrigo. Quando a gente é sensível, não há só que se ater ao lógico de uma situação degradante, é preciso que se fale e se mostre o quanto de harmonioso e criativo há, e sempre vai haver, naquilo que se julga perdido pela visão presente de um momento que também foi presente, e que infelizmente não pulsa mais para aqueles que não podem abstrair dele algo mais que passado.
Por isso há "homens e Seres".
E os seres são essenciais para que não se perca a medida do passado, pois num futuro talvez este presente, o agora, seja uma data e nada mais.
Parabéns pelo trabalho.
Um grande abraço.
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