sábado, 22 de janeiro de 2011

Uma noite em 1967

Outro dia assisti a um filme chamado “Uma noite em 67”, de Renato Terra e Ricardo Calil, que narrava os bastidores do festival de 1967, da Rede Record. O terceiro festival, (o segundo promovido pela emissora, já que o primeiro tinha sido organizado pela TV Excelsior), chamado “Festival da Virada”, divulgou artistas como Gilberto Gil, Edu Lobo, Caetano Veloso, Sérgio Ricardo, Mutantes, Chico Buarque, Elis Regina, MPB4, etc. Neste ano o vitorioso foi, mais uma vez, Edu Lobo, com “Ponteio”, deixando em segundo lugar “Domingo no Parque” de Gilberto Gil e em terceiro “Roda Viva”, de Chico Buarque, que havia sido o vencedor do ano anterior com “A Banda”. Esse festival também contou com Sérgio Ricardo quebrando o violão no palco e o arremessando contra a plateia em reação à vaia sofrida e Roberto Carlos amargando um 5º lugar quando ousou fugir ao esquema da Jovem Guarda, cantando “Maria, Carnaval e Cinzas” de Luiz Carlos Paraná.
Muito bom ver as imagens da época, com os apresentadores e os artistas fumando nos bastidores ao longo das entrevistas (numa época em que não havia o politicamente correto de hoje), a precariedade técnica das apresentações ao vivo, e sobretudo a alegria de ter um espaço no horário nobre para cantar música ao vivo e mobilizar centenas de jovens não só na platéia/torcida do festival, como também pelo rádio e TV em várias cidades do país, às vésperas do enrijecimento cada vez maior do regime militar.
Interessante o depoimento de um dos diretores do festival ao dizer que o objetivo era realizar um programa de entretenimento, mas que acabou se transformando em algo emblemático, devido a situação pela qual o país atravessava.
Nos depoimentos atuais isso é muito interessante, pois percebemos que o que para nós hoje muitas vezes se mostra como algo intencional o tempo inteiro, para os seus protagonistas, nem sempre havia a intenção de protesto contra o governo militar ou algo parecido.
O filme também retrata o momento em que se construíam as bases do tropicalismo e como Chico Buarque, ficando de fora, embora sendo mais jovem que Caetano e Gil, acabou tendo associada a sua imagem ao pessoal do samba e da bossa nova, ou seja, ao velho, apesar de ter vinte e poucos anos.

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