sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Parte II – de tão otário que sou, continuo escrevendo ao Constantino

Acho que não fui claro no texto anterior. Certamente, vão dizer que fui prolixo. O que eu estava querendo mostrar era simplesmente que o muro caiu há mais de vinte anos e que o “comunismo” soviético não existe mais. A experiência cubana, lamentavelmente sofre com o embargo norte-americano, é uma sobrevivente do beligerante séc. XX.
Falar em socialismo hoje não significa necessariamente falar em revolução armada e nem em ditadura do proletariado, principalmente porque o capitalismo também não está mais nas fábricas.
Ser socialista é defender a democracia sim, mas não o modelo neoliberal de soltar a raposa no galinheiro, e sim a democracia progressista, com avanços sociais. Precisamos lutar para que o Estado assuma seu papel e se recupere da atrofia pela qual passou nas décadas anteriores. Isso não significa defender a reprodução da experiência cubana no Brasil.
Esqueci de mencionar um detalhe interessante sobre o texto do Rodrigo Constantino. Na verdade foi o da pessoa que repassou o e-mail, que lamenta o fato de a imprensa independente não veicular o excelente artigo. Gente, o brilhantismo do Constantino é um arremedo mal-feito do Diogo Mainardi na Veja. Esse texto dele talvez não fosse publicado n’O Globo pela má qualidade literária, assim como os meus (rsrs.), mas pela ‘ideologia’(?) que carrega, sem dúvidas estaria lá, na opinião dos editores.
Aliás, fui verificar. O rapaz (é, até que é jovem, mas tem uma formação conservadora) sustenta um blog, tem graduação e lato sensu em economia, e escreve sobre investimentos em O Globo e no Valor Econômico, mas agora é tarde, já tinha escrito todo esse texto quando tive a curiosidade de verificar.
Eu não veria de forma alguma textos de Luís Nassif, Luís Carlos Azenha, Fábio Konder Comparato, José Arbex Jr. e tantos outros na mídia grande.
Me lembrei de mais trechos descontextualizados e nonsenses do Constantino. Logo no início, citando Roberto Campos (bela referência, não?) tenta golpear os artistas e intelectuais de esquerda dizendo que eles adoram três coisas que só o capitalismo pode trazer:
“- bons cachês em moeda forte;
- ausência de censura
- consumismo burguês. Trata-se de filhos de Marx numa transa adúltera com a Coca-Cola..."
Não conheço ‘artista de esquerda’ (coloquei as aspas porque acho o termo limitador demais) no Brasil que receba em dólar quando faz show aqui.
Existência ou não de censura independe do modelo econômico. Somos um país capitalista e, no entanto, estamos nas mãos de poucos monopólios detentores da informação, apesar da internet. Aliás, ainda é utópico pensar que o simples fato da existência da internet signifique automaticamente maior acesso e qualidade de informação, até porque as empresas estabelecem diversos filtros. Você se informa por qual portal? Globo.com, Terra, Uol? Rs. Ah, o twitter... mas a maioria escolhe unilateralmente quem vai seguir e recebe a informação filtrada, do mesmo jeito. E aí, quando aparece um cara como o do Wikileaks, a águia da democracia salta da tocha da estátua em Manhattan e vem crocitando com as garras à mostra.
Consumismo burguês? Essa é a melhor de todas. Outro dia um camarada me aporrinhou no twitter me chamando de socialista bebedor de Heineken. A intenção dele era apontar uma contradição entre meu discurso e meus hábitos, pois essa cerveja é vendida por um preço um pouco mais caro que as demais. Respondi com uma brincadeira acerca das bebidas e os modos de produção, falando sobre as cervejas que são produzidas na Alemanha, tanto na antiga Oriental quanto na Ocidental, inclusive respeitando ainda hoje uma lei antiga, do século XVI, de que as cervejas alemãs devem se constituir apenas de água, malte, cevada, levedura e nada mais (ih, mas que ditadura!). Brinquei também sobre a vodka russa, considerada a melhor do mundo. Concluí de gozação, que de bebida boa os socialistas entendem, e que na verdade bebida ruim é coisa de capitalista que pra economizar e obter mais lucro, de acordo com a ótica do mercado, gasta menos com a produção, utilizando ingredientes ruins e produzindo algo de qualidade inferior, porém em grande escala. E nem comentei com ele sobre as garrafas de whisky 8 e 12 anos que tenho aqui comigo, rs.
Brincadeiras à parte, acho muito reducionismo e cafonice tentar estabelecer um instrumento capaz de medir o comprometimento social dos outros. É bem verdade que existem pessoas (e eu conheço várias) que ficam ‘sindicato’ pra cá, ‘companheiro’ pra lá, e tratam mal o garçom no restaurante e(ou) adoram acumular capital. Eu gasto meu salário inteiro todos os meses, comendo e bebendo o que gosto (pelo sabor e não pelo valor), ‘consumindo’ discos, vídeos, livros, pagando minhas contas... Não acumulo capital, não possuo automóvel luxuoso (até porque não tenho mesmo dinheiro para isso), Não tenho empregados para fazer as coisas que não quero fazer, não jogo lixo na rua, não furo e nem me incomodo com fila, respeito o trânsito, uso transportes coletivos... Mas peco ao tomar Heineken, que custa R$ 2,00 a lata no supermercado.

3 comentários:

Anônimo disse...

'capitalista que pra economizar e obter mais lucro, de acordo com a ótica do mercado, gasta menos com a produção,'

Então vc não sabe o que é mercado.Se o mercado exigir ele vai gastar mais sim, tanto que se não fizer a empresa dele vai falir

Rodrigo Rosselini disse...

Que me desculpem os leitores inteligentes, mas por um princípio democrático, tenho por prática publicar todos os comentários. Seja pra debater ou concordar, rir ou chorar.

Mauro disse...

Bom texto. Inteligente. O que os conservadores precisam e estudar muito mais. Esse Constantino e um imbeciloide que quer midia.